8º Capítulo

Os vidros quase tão escuros quanto a jaqueta preta dele foram se abaixando lentamente, mostrando sua expressão de surpresa ao me ver.
- Quer carona ? - disse preocupado
Por incrível que pareça, ainda pensei em negar, mas vendo as condições em que eu me encontrava, tratei de aceitar.
- Quero - suspirei
- Entra, rápido !
Corri até o outro lado da rua, ele abriu a porta pra mim, sentei rapidamente, puxando a porta comigo, ele não disse nada, apenas pisou fundo. O frio era congelante, e ainda com a roupa molhada, tornava-o insuportável, fechei os olhos, cruzei os braços, abraçando meu próprio corpo, numa tentativa desesperada de me aquecer.

Senti um vento quente em minha direção, abri os olhos lentamente, vendo Harry mexer no aquecedor e virando -o em minha direção.

- Obrigado ! - saiu como um sussurro
- Pelo o que ? - parecia confuso
- Pela carona - encarei seus olhos
- Ah, não foi nada, mas preciso saber seu endereço, sabe, pra poder te levar lá.
Meu coração parou, não poderia passar o endereço á ele, se chegasse lá, iriam mata-lo ou ele poderia desconfiar por ter tantos homens com armas.
- É que - parei pra pensar numa desculpa - eu acabei de me mudar e ainda não decorei o endereço
- Ahn, então, tem algum problema de você ir pra minha casa, digo, sua mãe não vai achar estranho, ou sei lá.
- Não, não tem - sorri aliviada
- Então ta !
Harry dirigiu por mais 5 minutos, em um silêncio constrangedor, que parecia nunca acabar quando finalmente parou em frente á uma casa, ou melhor mansão.

- Você mora aqui ?! - surpresa
- Sim, por que ?
- É linda... Será que sua mãe não vai achar estranho você ter me trazido até aqui ?
- (risos) Eu moro sozinho (S/n) - sorriu

Desci do carro, e fiquei ali, parada ou talvez congelada olhando para aquela casa, era tão simples e tão linda, mas não era grande demais para uma pessoa só ?

- (S/n) ?! Congelou ai ?! - me chacoalhou
- Ahn ? Desculpa ..
Apenas o segui para dentro de sua casa, observando cada detalhe, cada janela, cada vazo, cada tudo.

- Acho que você deve estar morrendo de frio com essa roupa né ? - me olhou de cima á baixo

- Pois é, um pouco.
- Ahn, deixa eu pensar ... Olha, subindo aqui, a segunda porta á direita é o banheiro, toma um banho pra se esquentar, você pode ficar doente assim.
- Mas eu não trouxe outra roupa !
- Eu vou ver se tem alguma coisa da minha irmã aqui, ela sempre esquece alguma coisa aqui em casa, quando vem me ver.
- Obrigada Harry, por tudo ..
- De nada (SeuApelido), agora vai lá, segunda porta á direita, vou preparar alguma coisa pra gente.

Subi as escadas, e me deparei com o banheiro, tranquei a porta, e me encarei no espelho. Minha aparência estava horrível, parecia que tinha sido atropelada, me despi e entrei no chuveiro, deixando toda aquela água quente escorrer pelo meu corpo e morrer no ralo, acho que fiquei uns 15 minutos assim, observando a água e deixando ela aquecer meu corpo. Finalmente quente, desliguei o chuveiro, me enrolei na toalha e foi ai que pensei, "Como iria me vestir, não tinha nenhuma roupa ali".

Abri a porta devagar, e vi uma roupa pendurada no gancho, provavelmente Harry tinha deixado ali, peguei a roupa e fiquei pensando se aquilo iria ou não servir em mim.

Desci as escadas, ao chegar na sala, senti um um perfume delicioso de comida, ou melhor bebida, fui seguindo o cheirando, terminando na cozinha, onde Harry estava lavando uma louça. Ele sentiu minha presença ali e se virou.

- Que bom que o pijama serviu, e olha, serviu direitinho - sorriu

- É verdade - olhei para meu corpo - Deixa que eu termino de lavar a louça

- Não, não precisa, você é visita, pode ficar

- Sou uma visita que ja deu muito trabalho, não acha ? - sorri

- Que nada - sorriu - Olha, fiz chocolate quente pra gente

Peguei as duas xícaras e levei pra sala, sentei no sofá, ele apenas seguia meus passos, sentou do meu lado e pegou a xícara da minha mão, ficamos por minutos incontáveis tomando aquele chocolate, que tenho que admitir, estava muito bom.

- Olha, se você chegou a pensar que eu iria te trazer pra casa, só para me aproveitar de você, quero dizer que não é nada disso, as pessoas daquela escola colocaram uma fama em mim como : " O galinha" , "Pega todas" , "Destruidor de corações". Mas na verdade não é nada disso, não sou esse cara que todos pensam que sou.

- Eu logo que cheguei, ouvi esse boatos, então preferi me manter longe sabe, mas hoje, quando você me ajudou a escapar daquela chuva horrível, percebi que você não é esse cara que todos dizem ser, você tem um bom coração, você, ahn, é legal .

- Que bom que pensa assim, acho que é a unica.

- As vezes, ser unica também é bom - sorri

Continuamos conversando, contando sobre nossas vidas e é claro, eu inventando histórias, mentindo pra ele, sobre como minha vida era incrível, como é ter a mãe mais protetora do mundo, se bem que nem sei como ele é de verdade.

Ja falei que eu sou desastrada ? Não?!, então, eu sou, me empolguei tanto com as minhas histórias e bati a mão na xícara. O restinho do chocolate derramou na blusa dele, eu fiquei desesperada, por que além dele me ajudar, eu ainda mancho a blusa dele.

- Ai meu Deus, desculpa - passando a mão na blusa

- Calma, calma, ta quente ! 

- Eu vou pegar um pano, espera ai ta ? - levantei

Levantei do sofá e juro que minha intenção era correr até a cozinha e pegar um pano pra limpar a bagunça que eu tinha feito. Mas foi tudo ao contrário, antes mesmo de chegar a cozinha, tropeçei no pé da mesa de centro e cai no colo dele ( Olha a vantagem), sem reação nenhuma, levantei a cabeça, e meu olhar foi de encontro ao dele.

- Me diz que você fez isso de propósito ! - sussurou 

- Pior que não - sorri envergonhada

Senti o perfume dele invadir meus pulmões, era como se fosse uma droga, um vicio, como se minha respiração dependesse da dele, apenas isso.